Publicado em 07/03/2024
Melissa, Vespa
Quem é a mulher que mais te inspira?
Foi com essa pergunta que iniciamos a entrevista com duas gestoras de grandes indústrias para falar sobre o Dia da Mulher e como elas se sentem no cenário empresarial.
Michele Valentim e Natalia Tallmann são líderes do setor comercial das empresas Matilat e BemFixa, respectivamente. As convidamos para esse bate-papo não somente pela experiência delas como gestoras, mas também por entenderem como é ser uma mulher trabalhando num setor majoritariamente masculino.
Respondendo à primeira pergunta, ambas pensaram nas suas mães: “a gente vê a força que elas têm, são a maior inspiração, estão sempre ali (…) Se ela conseguiu, eu também posso”, diz Michele. Natalia lembra de como sua mãe, como muitas brasileiras, teve de ser multitarefas todos os dias: “tem esse desafio, de ter a jornada de trabalho, ser mãe e ser dona de casa (…) Nunca deixou faltar nada, sempre nos educou bem, e trago princípios que aprendi com ela pra vida e que passo também pra minha filha”.
Vemos mulheres fortes e trabalhadoras ao nosso redor todos os dias, e no entanto, a participação das mulheres no mercado de trabalho ainda é 20% inferior à dos homens. Diante desse cenário, como Michele e Natalia enxergam a importância do papel da mulher no setor de vendas?
Michele afirma que “você tem que demonstrar que sabe tanto quanto eles, que você está ali, no mesmo patamar. Não é porque você é mulher que eles não têm que te ouvir e acatar o que você está falando. É um desafio para nós, mulheres”. Natalia complementa: “é um mercado desafiador, você tem que ter coragem”.
Desde pequenas, as duas gestoras eram sonhadoras – inclusive, esse foi um dos adjetivos que elas escolheram para representar o que é ser uma mulher. Michele queria ser fisioterapeuta, e Natalia, crescendo ao lado da avó e a observando na cozinha, queria ser chef. É curioso como, de uma forma ou de outra, as duas teriam trabalhado com algum tipo de gestão, sempre com a vontade de cuidar das pessoas.
Como maior desafio no trabalho, as duas apontam a importância do equilíbrio entre o time interno e do em campo. Natalia diz: “vejo dificuldade do pessoal da rua quando as coisas não saem como o esperado. O varejo pode ser difícil (…) Venda não é só relacionamento, hoje é cada vez mais exigido que você passe segurança”. Michele complementa, afirmando que “o mais difícil é você entender a venda lá fora, porque uma coisa é estar sentada em frente do computador, e outra é estar na frente de um comprador (…) É preciso tentar entender o que eles passam e entender o processo, mesmo estando do outro lado”.
Começar no setor comercial, um em que as gestoras não estavam esperando adentrar, foi surpreendentemente bom. Quando perguntamos sobre a expectativa versus realidade na empresa, elas disseram ter entrado como assistentes comerciais. Com o passar do tempo, se interessaram ainda mais pela área, estudando e trabalhando para aprender mais. Hoje colhem os frutos, assumindo cargos de liderança na empresa.
Não há dúvida de que elas tomaram gosto pela área: “quando tive a oportunidade de entrar na Matilat, já entrei no setor comercial e não me vejo em outro, não trocaria. Tem essa loucura, mas não mudaria”, diz Michele. De fato, o setor comercial não é para todos. Praticamente todos os times contêm pessoas mais enérgicas, “pilhadas”, prontas pra qualquer situação. Natalia também tem paixão pelo setor e declara: “hoje sou coordenadora comercial, tenho um time comigo, a parte de treinamento, administração de vendas, contato com supervisores e representantes de venda, analiso dados, reviso a política comercial (…) É um exemplo que eu procuro levar pro meu time, você ter líderes que fazem a diferença e ajudam a inspirar também. Temos que estar atentos ao mercado”.
Ambas tiveram uma longa jornada desde o começo das suas carreiras, partilhando essa experiência e desejo de crescimento nas empresas. Qual seria a fórmula para se tornarem grandes líderes?
“Quando você assume cargos de liderança você tem que ter muita empatia, tem que conhecer o próximo (…) e ter esse cuidado com o outro. Acima de tudo, somos todos seres humanos, e todos têm suas dificuldades no dia a dia”, diz Natalia. Michele lembra de quando foi promovida para ser analista, sempre almejando cargos mais altos: “gostava muito de fuçar, ver como as coisas funcionam, e queria mudar o que eles já faziam”.
As gestoras também comentam sobre a fácil comunicação com os seus CEOs. Assim como na Sellentt, com o nosso CEO Thiago Ronda, Natalia fala muito sobre o equilíbrio que o seu chefe encontra entre ter o gingado de trabalhar em campo, focando no relacionamento e dores com o cliente, mas também compreender a dinâmica do time interno: “o meu CEO é muito exemplo disso, ele entende muito bem a parte de relacionamento da rua, como entender o cliente, mas entende muito bem a parte interna também”. Essa proximidade com cargos superiores certamente ajuda a criar um senso de comunidade entre os funcionários, algo que a Sellentt também prioriza nas suas atividades.
Mas ser mulher também é se desdobrar em muitos outros cargos, como o de ser mãe. Natalia é mãe de uma menina de 4 anos. Perguntamos como funcionava essa dinâmica entre cuidar da filha, sendo mãe, e cuidar de uma equipe tão grande, sendo gestora, ao que ela respondeu: “é um desafio tremendo, porque quando eu chego no trabalho eu me entrego demais, e quando chego em casa, tem a virada de chave. Ali tem uma criança que quer sua atenção, que quer brincar com você, e não podemos levar estresse pra casa. É desafiador. Fora isso, pesa que eu passo mais tempo no trabalho do que em casa (…) A parte do trabalho é isso, acima de tudo temos que ser exemplo, tanto em casa, pra minha filha, quanto no trabalho, com meu time”.
Ainda sobre a necessidade de gerenciar a casa e o trabalho, Natalia diz que: “você tem que sair desse automático. Às vezes você está no trabalho, e um colega está estressado ou tem um problema acontecendo… procuro ser atenciosa, ter esse lado humano com o meu time. Envolve muito amor isso, o clichê “faça o que você gosta e nunca terá que trabalhar”, pra você desenvolver aquilo e achar um jeito mais fácil de conciliar as coisas”. É o dom da mulher de ter empatia mesmo quando não há tempo no trabalho, e ter forças quando o cansaço do dia chega à noite em casa.
Quanto à representatividade, ainda é algo a ser discutido e pautado sempre que possível para vermos uma mudança real nas empresas. Em uma reunião com a diretoria, Michele comenta que era a única mulher na sala. Já Natalia afirma que 80% da sua empresa é composta por mulheres. Na conclusão, estamos caminhando para um lugar melhor, mas é uma longa caminhada até a igualdade no setor.
A entrevista surgiu com o desejo de passar um pouco da visão das mulheres à frente do ramo comercial. Elas também fazem acontecer e querem prosperar junto com as empresas. Têm grandes sonhos focados na sua evolução, seja como pessoa, mãe, amiga ou filha. Quisemos homenagear todas as mulheres do setor através de grandes exemplos como a Michele e a Natalia. Mulheres fortes, independentes e que estão prontas para qualquer batalha!
Fonte: Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE)